Girassol
O dia
amanheceu nublado. Os velhos telhados cobertos de folhas secas eram os únicos
que ainda aguentavam as constantes mudanças de humor do tempo. No chão, a
frente da sofrida casa de alvenaria, o mato encrespava-se junto ao tronco de
uma mangueira anciã. Parecia querer se infiltrar nos espaços que ainda se
conservavam incólumes. Os degraus que levavam à estreita varanda, lembravam saudosos das risadas infantis e ainda sentiam
dores por suas pisadas tempestuosas.
Um homem,
envergando uns setenta anos tocou a fechadura do enferrujado portão, que
outrora exibia um manto branco e robusto. Sentindo sua resistência, vacilou em
sua decisão de voltar aquele mundo. Os passos seguintes foram lentos,
arrastados, quase como se fossem aprisionados pelo mato traiçoeiro.
Enfim o velho
homem encontrou beleza em meio aquele quadro inóspito. Sem demora ajoelhou-se
como se o tempo fosse arrancado de suas entranhas e lhe devolvesse a
flexibilidade da juventude.
- Voltei,
minha amada!
Essas últimas
palavras foram proferidas aos pés de um gracioso girassol.
Autora: Cláudia Valéria Miqueloti